Trechos de um diário de viagem II

11-07-2021

Zagreb, Croácia


Minha viagem à Croácia já iniciou cheia de aventuras. O trajeto Graz x Zagreb geralmente dura 3 horas de ônibus, mas tivemos um atraso de quase 3 horas devido ao inesperado, talvez não tão inesperado fenômeno chamado: trânsito de verão.

Descobri ao sair do ônibus que eu não tinha internet e fui obrigada a pedir um táxi, sabendo que seria gentilmente roubada, como todo turista é . A moeda croata e a Kuna, não o euro. Minha corrida deu 40 kunas, mas eu só tinha Euro e a casa de câmbio estava fechada. O motorista não falava inglês, eu não falava croata, cada um argumentando sem entender o outro. Se eu tivesse falado português ou mandarim, não teria feito diferença nenhuma na ocasião. Após um silêncio caótico, ele entrou no carro e foi embora. No fim, eu tinha 40 kunas há mais.

Antes disso, durante a viagem, conheci Vera, uma senhora de aparente 50 anos, que contrariando o que se espera de uma senhora europeia, começou a puxar assunto comigo. Ela não falava mais que algumas palavras em inglês, e eu não mais que umas palavras em alemão. Pelo pouco que compreendi, Vera não falava com os irmãos e o marido morreu. Nasceu na Croácia e mora há mais de 15 anos em Viena. E foi assim que eu cometi meu primeiro erro de viagem: aceitei um biscoito de limão oferecido por ela, e anotei meu telefone em um pedaço de papel para tomarmos um café mais tarde. A ligação nunca veio, e se tivesse vindo, o café nunca teria acontecido. Acredito que há encontros que são apenas o momento, e não há motivos para estender. O momento é sagrado, e vivemos tal como ele é: passageiro.


As ruas estão cheias de brasileiros para minha surpresa. E foi assim que conheci Pedro, ou João, ou Fernando. estava sentada no bar, quando escutei o som do meu bom e velho português, e sem delongas me apresentei. Logo formamos um grupo.

João - vamos chamá-lo assim-, está viajando pela europa, um rapaz como tantos outros perdidos e sonhando que na europa, ou em outro qualquer lugar, vão encontrar a fonte da juventude o segredo de Monalisa ou qualquer outra coisa que vale a pena. Anos mais tarde realizará que o próprio trajeto é o mais valioso tesouro, e que não há potes dourados no fim do arco-íris, apenas escolhas e com muita sorte, a aceitação de lidar com as escolhas feitas, e as não feitas. João é confiante, sorriso honesto daqueles que você sabe que só é possível oferecer depois de ter experimentado muita amargura. E como dizem: é preciso refinar-se. João não entendia muito de nada, não falava inglês e é esse espírito de aventura que eu amo, especialmente em nós, brasileiros. O de ir, mesmo sem ter onde ficar, e fazer, embora não saiba o que.


Fernando tem 20 anos e é professor de história da arte na Turquia. Vida sofrida de quem se emancipou aos 15 e hoje é o que é pela dor de quem cresceu rápido demais. Eloquente, inteligente, culto mas não chato. Entende de política, corpo meio travado de alguém que não sabe o que é ser espontâneo, pois desde cedo aprendeu reprimir os impulsos naturais. Turquia, Sérvia, República Tcheca. Já esteve em todo canto e ainda irá para um bocado mais.


Fomos para uma balada, mas fui embora cedo. Há um instinto de simplesmente ir embora dentro de mim, que eu não sei da onde vem. Estou em um lugar, e de repente, não estou mais. E foi assim, decidi que iria embora e fui. Estou entre o velha demais para uma balada de eletrônica na Croácia, e o jovem demais para desperdiçar a chance de uma boa história.


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