O Fruto

25-06-2025
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Originalmente escrito no dia 29 de Janeiro de 2022.


29 de Janeiro de 2022
Londres, Reino Unido

A primeira vez que ouvi falar em Londres eu tinha 12, 13, talvez 10 anos. Quem sabe? Eu não sei. Meu primo havia morado 10 anos na terra da Rainha, e foi a primeira vez na vida que eu soube que um dia, eu também iria embora. A gente sempre sabe, lá dentro, algumas coisas que não têm explicação. Assim como você sabe que seria médico, sua vizinha sabe que seria mãe, e Paulo da padaria sabia que morreria. Eu sabia que um dia iria para Londres.

Na astrografia, meu Mercúrio passa pelo Reino Unido. Aí estavam os astros dizendo que o Reino Unido seria um ótimo lugar para desenvolver habilidades mercurianas, tais como oratória, estudos, comunicação. Disso não sei — foram tempos sombrios e nublados, de longos silêncios.

A cidade de Londres foi fundada pelos romanos, e o primeiro nome dela era Londinium. Acredita-se que isso tenha ocorrido em 43 d.C., e o tamanho da cidade na época era equivalente ao tamanho do Hyde Park hoje em dia. Eu estava ali, naquela cidade, na parte sudeste em que o mundo se divide em Ocidente e Oriente. Ali, palco do pós-punk dos anos 80, cada rua vibra música, revolução. Eu estava ali, mas meu coração não estava da mesma forma que estaria caso essa viagem tivesse ocorrido anos ou meses antes. Penso muito em como o tempo de algo vivido altera a experiência. Se eu tivesse vindo para Londres há 10 anos, como seria? Teria caminhado pelas mesmas ruas em busca de lojas de vinil ou teria me perdido rumo a Liverpool?

Eu amadureci pelo menos cinco anos neste último ano, e me conheci em todas as minhas facetas, como nunca tinha feito antes. Os meses passados foram processos de lapidação da transição tardia da vida jovem para uma vida madura. Percebi que muito das minhas andanças tinha a ver com o medo de criar raiz, o medo de viver uma vida ordinária, comum, entediante. O medo de assumir responsabilidades e pensar a longo prazo. De perceber que eu não ia me formar em Tribal Shakti, nem percorrer o Himalaia. Continuar mudando de país todo ano era uma fuga eterna em busca de um lar, enquanto toda oportunidade que eu tinha de transformar um lugar em lar, eu abandonava. A eterna incoerência humana de desejar amor e desprezar a possibilidade do amor. De ir de encontro com aquilo que repudiamos conscientemente, mas desejamos inconscientemente. Mas essa já não era quem eu sou.

Eu estava pronta para parar de fugir e iniciar um novo capítulo da minha vida adulta. Aquelas roupas, falas, atitudes já não se encaixavam em mim. Desejava ansiosamente pelo próximo capítulo. Quero trabalho árduo com aquilo que amo, quero a estabilidade da minha casa, do meu quarto, dos meus livros na estante. Quero a mulher que amo dividindo o café, o sol, a praia, a cerâmica, os dedos entrelaçados.

De repente, olhei para o espelho e vi um fio de cabelo branco. Junto com esse cabelo branco, veio o entendimento de que eu estava realizando algo que sempre fui de encontro, embora só tivesse percebido ali, naquele momento: encontrar meu caminho. Eu tinha encontrado minha sina — ou, pelo menos, algo para o qual meu coração acelerava. Aos 27 anos, havia concluído uma etapa enorme em minha vida: um caminhar de compreensão com quem eu era, com amor-próprio, carreira, casa. O último ano, desde aquele exato momento em que deixei São Paulo para vir para a Áustria, tudo me levou até onde estou agora. E eu estava a um passo de iniciar a jornada mais desafiante de todas: eu havia encontrado o caminho — agora precisava percorrê-lo. Onde isso ia dar? Sem pressa nenhuma, eu estava construindo o futuro através do presente.

Cheguei à Europa com uma mala de 32 kg. Mudei-me para Londres com uma de 23 kg. E agora, me preparo para ir embora com apenas 10 kg. Fiz as malas como uma mãe se prepara para ir à maternidade, sabendo que eu iria parir não um filho, mas a minha vida. De novo, aquele impulso de recomeço, e abandono todas as cartas, quadros, bichinhos de pelúcia e qualquer vínculo com o passado. Apenas o essencial vai ficando. Nada de nostalgia, mas de alívio — pela primeira vez na vida, ter certeza de quem eu era, do que queria, de quem amava. Deixo as chaves no canto direito do muro, fecho as portas sem olhar para trás, e sigo apenas uma direção: em frente.

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