Caminhar é caminho

Há anos, a ideia de me isolar em uma cabana nas montanhas me persegue. Quero entrar em um processo criativo de escrita, mas também numa espécie de jornada pessoal — talvez a mesma que fiz anos atrás, quando larguei tudo para virar monja — porém mais madura, com uma percepção mais clara sobre mim mesma. Não em busca de um deus externo, divino, mas de um ser tão complexo quanto: eu mesma. E, quem sabe, nessa busca toda eu descubra que não há crenças ou padrões que me diferem da natureza. Quem sabe, no meio dessa caminhada, eu descubra o segredo que move a humanidade — os desejos e vontades, delírios e soberbas do homem, de mim, de você.
E o melhor: fazer isso sozinha.
Não, eu certifico — eu não quero, eu preciso.
É como uma sina, algo que tenho de fazer, assim como Cabral sabia que precisava navegar, ou Woody Guthrie sabia que precisava compor sobre a vida dos operários, dos imigrantes, dos que ficavam à margem do social.
Santiago de Compostela me veio à mente algumas vezes ao longo dos anos. Recentemente, com K, voltou não apenas a vontade de escrever, mas também de viver sonhos antigos — como essa peregrinação e escalar uma montanha.
Dessa vez, porém, não uma peregrinação em busca de Deus ou da salvação, mas uma jornada de retorno ao essencial. Um chamado para sair do ruído do mundo e encontrar, passo a passo, um outro tipo de resposta — talvez nenhuma, talvez apenas o silêncio. Mas um silêncio verdadeiro, que nasce quando se caminha.
De alguma forma, sinto que sair para caminhar é uma missão a ser concluída. Quase que um dharma. Como se minha vida toda tivesse sido um preparo para esse momento.
Eu preciso saber quais histórias meus passos podem contar.